sexta-feira, 18 de junho de 2010

Conto - Deuses & Rebeldes

O Castigo Divino
              
     Na noite anterior, os céus castigaram a terra lançando sobre ela águas torrenciais que gastaram as mais resistentes rochas incrustadas nos vales pedregosos. O mar se via selvagem, indomável como a fera mais orgulhosa da savana. Mostrou seu poder e fúria aos mais talentosos navegantes daquela época imemorável. Os rumores se alastraram velozmente sobre os quatro cantos do continente: "Os Deuses andam a castigar a humanidade decadente, estão fartos de tanta prostituição e iniquidade, e eis que mandam um dilúvio que cobrirá a face terrestre e apenas os selecionados se safarão." Os corruptos, ladrões, prostitutas, adúlteros, estes serão varridos pelos deuses, cujo poder pertence. Eles estão a frente do destino dos homens e os escolhem como querem. Fora da vontade dos deuses que caísse sobre a Terra o dilúvio que castigara a humanidade.
     - Tua rebeldia nos insulta, portanto, homens da Terra, vocês terão a sua sentença. Como escolheram se prostituir e rebelar-se perante o poder de nós, nós nos revelaremos a vocês, mostraremos quem somos e do que somos capazes, pois nós, vindos das estrelas, dos confins deste universo, demos a vocês nosso conhecimento, os presenteamos até mesmo com nosso poder que somente a nós é de direito e vocês, mesquinhos, imundos e rebeldes, jogaram por terra a luz que os ofertamos! Agora vão perecer como castigo, pois hão de merecer nossa fúria... arregalem-se de pavor, seus fracos e corruptíveis terrestres! - foram as declarações daqueles deuses antigos, indignados com tal podridão que assolou os homens daquela época.
     As águas invadiram os vales e plantações, inundaram vilarejos, mataram famílias, animais domésticos; as cidades estado que, com nobreza os deuses ajudaram a erigir, simplesmente ruíram e desapareceram como se jamais estivessem ali existido. Poucos foram poupados de tal castigo. Escolhidos a dedo pelos próprios senhores do universo, alguns homens e mulheres cujo destino final, definitivamente não estavam sob o controle das divindades celestiais. Por muito se aprendeu que deuses eram perfeitos. Mas praticamente todos os erros sujeitos a humanidade, aqueles seres igualmente partilhavam. Certamente, pois eram quase como nós!
     Poucos sabiam dos segredos deles. Pele cobria sua carne, sangue corria em seu sistema circulatório e ar enchiam-lhes os pulmões. Quase ninguém sabia. Infelizes eram os ignorantes, mas valentes eram os que conheciam.
     Havia sobre o globo, mestiços. Eles eram por muitos chamados de Emim ou Anakin. Eram formosos, altivos de beleza quase indescritível, pois definitivamente todo o olho que os contemplava logo via que de fato eram filhos e filhas de divindades. E como herdeiros sendo, sabiamente queriam o que lhes era de direito. Os Elementos Divinos!


O Rei-Herói e os Portões do Sol                          



     Ele passou a língua entre os lábios secos e rachados. Estavam salgados. O corpo rígido, dolorido, a pela ardia e coçava. O homem sentiu metade de seu rosto enterrado na areia áspera e úmida. As gaivotas ciscavam freneticamente suas costas como se aquela criatura fosse um farto banquete. Os olhos se abriram de repente e sua visão fora totalmente ofuscada pelo brilho do astro-rei que governava sobre a terra e a face do mar.
     O homem parecia estar jogado naquele relento há dias. Ao longo da praia onde estava, via-se as marcas do recuo das águas do grande dilúvio. Ele se esforçou ao tentar levantar-se e apreciou a paisagem de colinas e montanhas gastadas pelas erosão. Colocou-se de pé batendo as mãos para tirar a areia do corto e parou, estático. Desolado, com as vestes rasgadas, como trapos, mal sabia onde estava, ou quem era. Entretanto, deduziu que o mar o havia levado àquela praia de areias brancas.
Caminhando sem direção, tinha um andar de nobre guerreiro, postura altiva, como se pertencesse a alguma linhagem real, ou além. Um sujeito com imponência distinta de qualquer homem comum. Seus traços não eram naturais da Terra, mas sim das estrelas, pois nele havia a formosura divina, porém, a rusticidade humana.
     Tentava se lembrar de onde viera e porque dentro de si um ódio esperneava ansiando por liberdade. Suas memórias eram vagas demais. Olhava as cicatrizes espalhadas pelo corpo, ao mesmo tempo que apalpava o rosto numa tentativa de reconhecer a própria feição. Sentira a fartas barba e os cabelos longos. Tinha sobrancelhas grossas projetadas sobre os olhos firmes... olhou os braços fortes, mas nada tinham, a não ser, um misterioso bracelete dourado num deles. O guerreiro o analisou com mais atenção procurando inscrições no mesmo, mas enxergou apenas uma seta que apontava a leste. Porém, ao aproximar mais a vista, notou que a estranha seta se movia conforme andava. Parou franzindo a testa seriamente. O mesmo aconteceu com a seta, mas logo ela voltou a movimentar-se quando o homem seguiu em frente. Ele olhou a leste como que procurando por algo, um sinal, uma pista que o fizesse compreender aquilo. No entanto, de nada lembrou-se, até que então, uma esfera prateada cruzou o céu sobre ele numa velocidade tremenda, quase sem emitir qualquer ruído. Ao mesmo tempo que se espantou com tal fenômeno, uma porção de imagens instantâneas invadiram sua mente. Explosões catatônicas, multidões de homens digladiando, maquinas de metal, navios chamejantes que flutuavam no firmamento, armaduras forjadas do metal raro cujos deuses extraiam seu poder... ele começara a lembrar-se dos eventos e até mesmo da descomunal tempestade que subitamente caíra sobre a Terra a cobrindo com suas águas torrenciais, matando a todos e poupando apenas os escolhidos.

     Caminhava altivo sobre a areia e o cascalho. Ao longo da praia,
uma enorme embarcação destroçada perante o penhasco. Um vento forte vindo do sul soprava sobre as velas destrinchadas do navio de guerra. O guerreiro contemplou o brasão que ali era ostentado. De algo mais recordou-se. Mas se questionava e se punia por não se lembrar. No entanto, fora surpreendido por si mesmo. Lembrou-se! URUK! Enkidu!
Eram lembranças tristes sobre Enkidu. O homem confuso sentou sobre a areia murmurando. Sentiu uma profunda tristeza, porém não tinha certeza do por quê. Seu coração amargurado batia forte dentro de seu peito e mais lembranças o tomavam. Viu-se em meio a uma terrível batalha contra homens e gigantes. Em tal guerra, havia também mulheres, e muitas delas, junto dos homens, trajavam armaduras que reluziam e emanavam poder. O homem levara suas mãos à cabeça apertando bem os olhos numa tentativa desesperada de mergulhar em sua memória obscura. Então se lembrou... em punho, uma voraz espada forjada de um metal celestial. No peito, uma couraça blindada e de cor marrom; esta reluzia, igual as bestiais armaduras que os demais guerreiros trajavam no emaranhado da batalha de outrora. Lembrou-se, então, da diadema dourada em volta de sua cabeça, engastada com gemas brilhantes. Aquele homem lembrou-se que ordenava generais e sacerdotes; ordenava artesãos, pescadores e homens da ciência; ordenava vilarejos e províncias, tinha nas mãos uma enorme responsabilidade, pois era rei de uma gigantesca nação desenvolvida às sombras de seres supremos, celestiais, que vieram de longe arrastando por grilhões suas descomunais guerras por poder e sabedoria. Não eram deuses, embora fossem tratados e vistos como tal. Todo o homem os idolatrava e a eles sacrifícios eram oferecidos. Alguns dos deuses os recompensavam presenteando-os com os elementos divinos, fazendo assim seus peões nas batalhas.
     Ainda na areia, o homem se reconheceu enfim. Sangue divino corria em suas veias, pois da Terra sua mãe não era. Gilgamés. Filho de Ninsun de Nibiru e de Emerkar da Terra. Amigo leal de Enkidu, que sua mãe deu-lhe de presente ainda quando jovem. Enkidu não tinha origem terrestre, mas sim celestial, já que vinha da substância de Annu, criado por meios sintéticos; uma criatura aberrante de corpo recoberto por pelos, porém, que caminhava como um homem; tinha os olhos como de leões e seu rugido assombrava os mais valentes. Armado de espada e protegido por uma couraça, acompanhou Gilgamés em suas aventuras heróicas. Entretanto, tragicamente Enkidu pereceu; uma morte terrível por uma razão medíocre, onde Ishtar - de Nibiru - consternada e ao mesmo tempo tomada de ciúmes e ódio por Gilgamés ter rejeitado sua paixão, assassinou brutalmente o "homem natural", como era chamado por muitos, Enkidu. Assim, Ishtar selou a sina de Enkidu e vingou-se de Gilgamés. Nos anos em que as coisas ruíram devido as guerras, Gilgamés optou por prosseguir em seu destino. Sua inquietude pela conquista definitiva do poder de seus ancestrais, o forçou a viajar até o Monte dos Cedros e novamente cruzar a Floresta da Noite, onde na companhia de Enkidu mataram, ambos, o gigante e guardião dos Portões do Sol, Humbaba.
     Levantou-se então o astuto rei e poderoso guerreiro das areias. Praticamente nu, usando somente o bracelete guia, dado por Shamash, um dos mediadores do império de Schwerta que o guiou junto de Enkidu na primeira aventura até o monte, viu que necessitava de uma arma, pois embora o mundo houvesse mergulhado em águas, não sabia o que mais restava perambulando por ai. Andou até a embarcação deduzindo que lá encontraria algum armamento e vestimentas adequadas para se prevenir de um suposto duelo. Por entre os destroços encontrou então elmos e espadas, havia também um escudo, mas que não eram feitos de um metal forte. Vasculhou mais a procura de algo que o propusesse garantia de segurança. Revirando as chapas de madeira recobertas por algas, uma urna se revelou. Gilgamés a abriu e nela havia ouro e prata. Sentiu esperança, pois aqueles metais eram mais nobres e fortes que o bronze, e forjando ambos, uma liga resistente era o resultado. Apesar do sucesso, ouro e prata não eram suficientes para o guerreiro semi-divino. Sentia falta de sua couraça e sua espada forjadas a partir do metal celestial. Gilgamés nada encontrou, porém, em sua reflexão recordou-se da esfera alada que havia cruzado os céus indo para leste. Seu caminho era o norte, entretanto viu que teria necessidade de ir de encontro àquela esfera, pois do metal poderoso ela era fabricada. Com otimismo e audácia, improvisou uma têmpera a fim de criar uma liga metálica com aquilo que tinha em mãos. Forjou então um escudo, uma couraça, um par de grevas, uma espada e um elmo. Já os braços, foram revestidos com couro, pois nada mais havia restado. Usou tudo para chegar à dureza que precisava, e no cair da noite, marchou em sua busca.
     Gilgamés olhava os detalhes da nova paisagem e via-se assombrado com tal. Passou a odiar mais ainda aqueles malditos deuses que a Terra invadiu e mutilaram sem a mínima compaixão pelos homens e mulheres que a habitavam. Sua memória estava mais clara e em seu peito a amargura de antes novamente o tomara. Entrou num dilema quanto à rebelião dos povos após a queda do oriente pela súbita retaliação desferida por Inti, senhor de Nibiru. No fundo Gilgamés temia este pelo grandioso poder que possuía, embora Inti tenha hesitado quando percebeu que os homens a quem deu o poder, tramavam uma traição planejando expulsar todas as criaturas celestes depois que suas guerras chegaram ao fim, assim deixando-lhes totalmente vulneráveis. O antigo rei de Uruk perguntava-se onde haveria de estar Inti e os demais, ou ao menos, o desfecho de todo evento.
     O poderoso guerreiro durante semanas caminhou sem nada encontrar, nem sequer uma alma viva, e estava faminto e com uma terrível sede. Gilgamés cavou fundo o solo, até encontrar água doce para saciar-se e o revigorar para continuar.  
     Na quinta semana, a situação mudou enfim. Numa noite, enquanto dormia sob uma enorme rocha, Gilgamés fora surpreendido com estrondos medonhos, como se os céus estivessem prestes a despencar novamente trazendo chuvas sem fim. Despertou de olhos arregalados já com a espada empunho. Ele brandiu a arma dando voltas na escuridão enquanto o tremendo barulho aumentava emitindo ecos através das colinas e rochedos sem fim. Viu, então, a gigantesca embarcação alada passar por cima de si voando em direção ao horizonte negro. As grandes turbinas do navio chamejante ardiam deixando para trás o rastro de sua língua de fogo. Gilgamés cobriu o rosto com as mão protegendo-se da poeira, pois tamanha era a força do vento sobre aquela planície.
     Shamash desceu em forma de luz do estrondoso navio chamejante e suas  passadas fez vibrar o solo enquanto ia de encontro a Gilgamés que o contemplava.
     - Veja, Shamash, a minha volta, tal vastidão! - o herói gritou. - Um dilúvio caiu sobre a Terra e a morte se fez presente como nunca antes.
     - Tua memória ainda está vaga, Gilgamés. - disse o deus de armadura dourada e reluzente. - Venho até ti, pois auxílio quero prestar-lhe.
     - Nego teus auxílios, pois tua traição ainda amargura meu coração. Chorei a teus pés quando implorei por socorro a Enkidu, cujo amaldiçoado por Humbaba pereceu injustamente! - o rei chorou durante as recordações.
     Shamash o ouviu e dirigiu-lhe argumentações de consolo e esperança.
     - Atenda minhas generosidades, Gilgamés, pois eu venho com grande pesar até ti. Presenteio-lho com armas de metais celestiais e mostro o caminho que queres seguir. A seta o direciona por caminhos perigosos, mas com minha vigilancia você há de transpor todos os obstáculos. Os Anunnaki sabem que um destemido herói ainda persiste de pé nesta batalha, algo que é crucial na Rebelião. Não há mais Nefilim. Não há mais hierarquia entre nós. Tudo está acabado, Gilgamés. O tempo agora pertence aos terrestres, mas um poderoso rei deve levantar-se das sombras para lidera-los. Embora, sob olhos divinos isso deve ser feito.
     - E creio que isso não fará de bom agrado. - Gilgamés afrontou Shamash. - Todo reino, ou império erigido com o auxilio dos deuses ruiu. Sei bem de sua frieza, pois em mim corre seu sangue. Vocês não são tão diferentes dos homens, embora se escondam atrás de seus elementos celestiais. Vocês sangram, como nós!
     - Sua sina se traça com suas palavras dotadas de tamanho insulto. Está condenado, Gilgamés, com o resto da podridão humana. - Shamash disse em ira.
     - Fadados ao mesmo destino estamos, então. - Gilgamés disse com tal eloqüência que suas palavras penetraram profundamente a consciência de Shamash que calou-se e se foi.
     Círculos dourados surgiram nos céus acima de Gilgamés. Eram divinos como o sol; aqueles eram os "Portões do Sol", pelos quais os navios alados de Shamash e dos demais deuses adentraram sumindo após no universo frio. Jamais se soube do destino de Shamash e dos seus. Especulou-se por décadas que Nibiru, em crise, ruia, pois Inti, por milênios permaneceu na Terra, deixando o planeta escarlate nas mãos dos Grandes Anunnaki que odiavam seu imperador tirano. Gilgamés entrou em profundo dilema, mas havia dentro de si uma determinação capaz de superar qualquer mau presságio proferido pelo deus que fosse. O altivo enxugou as lágrimas que pendiam em sua face e marchou novamente, até que uma luz lhe ofuscou a vista. Entre duas rochas, Gilgamés avistou uma poderosa lamina, muito semelhante a de sua velha espada. O metal reluzia e o punho era forte. Alegrou-se então recobrando as esperanças. Puxou a espada que tilintou na pedra e a brandiu. Leve e forte, pensou. Estava preparado então para seguir rumo a leste, em busca da Floresta dos Cedros onde na morada de seus ancestrais encontraria a imortalidade. E avante foi, Gilgamés, o rei-herói!




A Queda de Gilgamés
                        
     Depois de andar léguas e léguas, Gilgamés chega ao pé das altas montanhas, cujos cumes gêmeos voltam-se para o primeiro e para o último dos extremos do mundo - o nascente e o poente. Gilgamés sobe até os altos picos e, uma vez lá em cima, olha o imenso céu e se pergunta pelo enigma da morte... Mas ninguém responde. O guerreiro grita incessantemente, porém, somente o eco de sua voz lhe atinge os tímpanos. Gilgamés decide então descer até as antigas moradas subterraneas dos deuses, pois era certo que lá encontraria respostas. Entretanto, numa terrível cilada Gilgamés caiu. Dos que guardavam os portões de entrada, dois deles eram da espécie dos Emim e possuiam armaduras como escorpiões vermelhos. Assustado, Gilgamés abalou-se, pois seus metais eram terrestres, embora suspeitava que sua espada não era daqui. E estava certo. Gilgamés foi grandemente subestimado pelos guardiões, entretanto, o rei era poderoso e golpeou um deles na garganta. O outro o atingiu com trovões debilitando Gilgamés que se viu a beira da morte.
     - Filho de Ninsun, implacável é, mas está proibido de respirar. Vai morrer com dor e não terei compaixão por ti! - disse o Emim em ira que avançou para cima do herói que se via caido no canto da parede de rocha.
     Gilgamés rugiu e intimidou o Emim.
     - Eu destrui Humbaba, o gigante, com minhas proprias mãos, provando de seu sangue amargo. Acha que é forte perante Gilgamés? - direcionou, então, a espada ao peito do guardião perfurando-lhe a armadura até varar as costas. - Lembre-se que em mim corre um sangue selvagem, Emim. - o rei o disse olhando fundo nos olhos.
     O Emim caiu aos pés do valente guerreiro que levantou-se e arrombou o portão de entrada do mundo subterrâneo. Lá dentro, um rio corria e um barqueiro idoso vigiava o local. Gilgamés o contemplou, pois duvidava que algum homem da Terra havia sobrevivido ao dilúvio cruel.
     Ele o chamou, e o homem o respondeu. Disse que seu nome era Utnapishtim e um dia os deuses o presentearam com os elementos divinos, porém fora traido e arrancado-lhe a imortalidade. Gilgamés encantou-se com sua história, já que o mesmo desconhecia aquele homem. No entanto, Utnapishtim alertou Gilgamés e sugeriu que o rei retornasse e deixasse de lado tal ambição. Gilgamés não lhe deu ouvidos e ordenou que Utnapishtim, o velho, o levasse até os elementos divinos. Utnapishtim aceitou de consciencia limpa, pois sua tarefa de preservar o rei fora cumprida.
     Desceu o rio até as águas paradas onde um lodo muito viscoso crescia. No meio, uma rocha recoberta por líquiens se erigia e um cinturão branco e reluzente repousava sobre a pedra. Os olhos de Gilgamés o contemplaram, mas Utnapishtim lamentou, pois ali se via a ruina do rei-herói de Uruk.
     Gilgamés pegou o elemento e regressou a superfície dando adeus ao velho sobrevivente do dilúvio, Utnapishtim. Assim fez e no meio do caminho, parou num manancial para beber água e refrescar o corpo. Entretanto, passadas pesadas e um sibilo como de
serpente ouviu. Uma voz tonitruante falou com ele que por sua vez estremeceu ficando paralisado de medo. Sabia que quem falava era poderoso. A voz mesclava entre feminino e masculino, e uma vibração aguda como um raio que aginge uma árvore pairava. Gilgamés não entendia, pois Shamash o havia garantido que eles não estavam mais na Terra!
     - Gilgamés, filho de Ninsun, você foi alertado das tragédias, mesmo assim ousou desafiar-nos. - a voz disse.
     Gilgamés estava mudo e via diante de si uma criatura fenomenal como nenhuma outra. Sua face era de luz e sua pele oscilava em cores brancas e avermelhadas, como um camaleão. O rei sabia que estava diante de um Nefilim, e seu nome era Inti, O Sol do Oeste, A Serpente do Oriente que derrubou o poderoso império de Heru-Tesher há muitos milenios atrás. Inti emanava tal poder que a vegetação a sua volta dissolvia em cinzas. Ele tomou das mãos do rei o cinturão o privando de usa-lo como castigo por sua rebeldia.
     - Não provará da imortalidade, Gilgamés. - a enorme criatura,Inti, pronunciou demonstrando desprezo.
Gilgamés lamentou e desabou em choro. A Serpente Inti, deu-lhe as costas marchando para sua enorme embarcação alada que alçou voo em movimentos peristauticos.
     As feridas do rei pioraram com sua amargura medonha. Gilgamés caiu, então, em profunda depressão por não ter provado dos elementos divinos, ainda mais sendo herdeiro de Nibiru. - Encontrei o sinal da vida e agora o perdi - disse.
     Gilgamés morre junto com os seus sonhos, mostrando assim que é humano. A partir dessa verificação, só lhe resta voltar à sua amada Uruk, para deixar a marca perene de sua existência. Humildes e poderosos da cidade choram a morte de seu herói e protetor. Esposa e filho, concubinas, músicos, bufos, todos os que comeram de sua mesa, servos, mordomos e os que viveram no seu palácio pesam as suas oferendas para Gilgamés.

Gilgamés, filho de Ninsun, está em seu túmulo
No altar das oferendas ele pesou o pão,
No altar das libações ele verteu o vinho.
Nesses dias partiu Gilgamés, filho de Ninsun
o rei, nosso senhor, sem igual entre os homens,
Aquele que não faltou a Enlil, seu deus.
Ó Gilgamés, senhor de Kullab, grande é a tua glória!

Ó Gilgamés, foi-te dada a realeza segundo o teu destino.
A vida eterna não era teu destino.
Quando os deuses criaram o homem,
deram-lhe como atributo a Morte,
mas a Vida, a Vida Eterna, essa, só ficou para eles.

FIM.


8 comentários:

  1. Olá! Gostei de seu início, apesar de parecer muito uma descrição histórica, mais que o incício de uma fantasia. Só tome cuidado com as conjugações dos verbos e, se possível, poste uma chamada para o seu conto, como se fosse a orelha do livro ou a contra capa que todo mundo olha pra saber do que se trata a história.
    Aguardo a continuação!

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  2. Olá Livia!
    Obrigado por comentar meu texto. Ainda estou iniciando essa vida de blogueiro, acabei de abrir, portanto ainda estou fazendo alguns ajustes. Mas aguarde que em breve dou sequencia ao conto.

    Beijos!

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  3. Moss, muito interessante, adoro fantasia. Mas aí, com exceção do número de divindade, achei o evento do texto muito similar ao dilúvio bíblico.
    Mas ficou legal. E esse romance seu? Como faço para aprecia-lo?
    abrass.

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  4. Olá Elvis,

    obrigado pela visita!
    Bom, primeiramente, sim, pois tirei minha inspiração de poemas sumérios e bíblicos e há uma semelhança gigantesca entre eles... se comparar o Enuma Elish dos sumérios ao Genese bíblico, verá a semelhança e a Suméria é a civilização mais antiga que se tem indicio.

    Em relação ao romace, ainda o estou desenvolvendo, mas decidi abrir este blog para, além de divulgar um pouco este extenso universo, armazenar textos que provavelmente irei inserir nos livros que antecedem a trilogia "O Legado dos Deuses". Não escrevi antes por ser uma história muito complexa e ainda estou me preparando para faze-lo. Embora já andava a pensar na trilogia muito antes, porém houve aqui em minha mente uma enorme explosão de idéias que não para de crescer nunca. É muita história para contar, então estou indo aos poucos.

    O blog é novo, portanto ainda estou montando. Mas aguarde que logo adicionarei mais conteúdo.

    Abraço!

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  5. Oi, passei por aqui pra ver se já tinha continuação :-)
    Só uma pergunta: porque você diz que será uma "trilogia"? Já tem mais ou menos a sequência da história montada para os três livros? Não cabem em dois, ou não corre o risco de se estender por mais que três?
    Eu pergunto isso porque tornou-se meio que uma febre criar trilogias e, às vezes, não há conteúdo para tanto ou para tão pouco (e nesse caso tem o exemplo do Cristofer Paolini, com seu Heragon, se bem que todas aquelas páginas têm muito pouco de ação e desenvolvimento de história, tem horas que parece mais uma novela que não acaba nunca...) Também pergunto isso porque quando comecei a escrever meu primeiro livro tive a intenção de fazê-lo uma troligia, mas hoje não tenho tanta certeza se será assim, talvez a história caiba melhor em apenas dois.

    Depois dá uma olhadinha no meu blog, vou ficar feliz em receber comentários e críticas suas!

    http://pargaia.blogspot.com/

    Sorte com tudo!

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  6. Olá novamente, Livia!

    Bom, já desenvolvo este projeto a cerca de 5 anos. E tenho absoluta certeza de que uma trilogia apenas não basta para todo o conteúdo que tenho arquivado nos papeis e na mente.

    E para ser sincero, tinha a intenção de desenvolver uma saga de 9 livros, porém analisei mais a fundo e vi que não era necessário. Mesmo assim, tenho muita história pra contar.

    Resumindo:
    Narro a história de uma civilização muito antiga que certa vez encontrou uma fonte de energia inesgotável e a usou para energizar a si mesmo. Evoluiram sob influencia de tal metal, pois dele forjaram armaduras...
    Estes conquistaram impérios gigantescos, até que em conflito com seu inimigo, no acaso da guerra foram parar na Terra. Aqui encontraram o homem primitivo com o qual realizaram experiencias genéticas, os tornando semelhantes a si. Estes seres do espaço tornaram-se deuses diante dos homens, assim os manipulando ou até mesmo mantendo relações com eles...

    A guerra entre os dois deuses rivais se estendera até que um deles saisse vitorioso. A humanidade fora extremamente afetada...

    E um dia, aproveitando-se das grandes baixas que os deuses sofreram por conta da guerra, os hemens se rebelaram e tomaram para si o poder dos mesmos e os expulsaram da Terra.

    Em sábias decisões, os povos da Terra esconderam tais armaduras e quaisquer ferramentas dos deuses para que ninguém as encontrassem novamente, já que eram ferramentas perigosas que traziam apenas o caos...

    A humanidade resolvera esquecer as coisas do passado e escribas de todas as partes forjaram textos que distorciam os fatos, tornando tudo como se mitologia fosse...

    O deus derrotado, ficara aprisionado num esquife e uma gigantesca piramide erigiram em torno dele.

    Em meados do séc. XXI, um grupo de pesquisadores o descobriu. Rá(o deus) foi despertado e durante décadas governou o mundo em puro sigilo...

    Após os anos de 2000, muitos conflitos se iniciaram, até que uma 3ª Guerra Mundial devastara tudo.

    - A humanidade fora praticamente extinta
    - Rá tivera um misterioso paradeiro

    A civilização se reiniciara e começara a viver conforme alguns manuais deixados por um grupo de intelectuais que viveram próximo ao deus.

    Aqui entra a trilogia.

    Num mundo cujo sistema era praticamente o mesmo que na idade média, a humanidade vive sob uma nova ameaça. A fim de evitar que o homem se corrompa novamente, uma tribo começa a selecionar jovens guerreiros para ir em busca das armaduras perdidas dos deuses... nesse meio tempo, reinos começam a brotar e muita coisa acontece.

    Bem, vê só? Até um resumo extremamente compacto fica difícil, pois tal é o tamanho da história.

    Simplesmente decidi escrever esta ultima parte primeiro, pelo fato de eu ter um pouco mais de liberdade. Já a anterior, é mais complexa, dependo de muita pesquisa para começar a escreve-la, pois minha base ali(como já notaram) são as mitologias antigas. É uma saga muito sombria e necessito de mais, muito mais preparo. E ela, a principio, farei em 2 livros, mas só depois que concluir esta trilogia. Aliás, depois de tudo, ainda penso num último episódio. :)

    Bem, é mais ou menos isso. Caso não tenha compreendido algo, só perguntar.

    Meu email se quiser adicionar-me: eric.selva@hotmail.com

    Ps.: dei uma passadinha rápida em seu blog. Adorei as imagens, e pode deixar que comento um de seus contos sim.

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  7. Gostei de seu resumo (rs, que resumo!), especialmente porque sempre fui adimiradora da mitologia. Pesquisei frenéticamente a mitologia grega e egípcia muito tempo, tinha um caderninho só de mitos brasileiros também, mas infelismente esse material eu não tenho mais, senão poderia te ajudar com a pesquisa. Mas tem bons livros no mercado, me lembro de um que era uma enciclopédia da mitologia grega, que tinha o Parthenon ao fundo na capa, talvez em um sebo ou no mercado livre você possa encontrar livros com esse tema com um preço menor...
    Mais uma coisa: enquanto lia seu resumo lembrei de um livro que li há pouco: Atlântis, que narra a história de pesquisadores atuais que descobriram vestígios da existência real da cidade perdida. Não tem muito de mitologia, nem nada a ver mesmo com sua história, mas tem umas referências legais especialmente a respeito da cultura dos povos naquela época ancestral. Enfim, pesquisar é uma das partes gostosas da escrita, você aprende fazendo simplesmente o que gosta :-)

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  8. Sim, meu foco maior são as mitologias mais antigas... a primeira que se tem indicios é a sumeriana. Então mesclo com as lendas egípcias, hebraicas e pré-colombianas. Misturo tudo isso a ufologia, ou arqueologia insólita que são essas idéias de que ETs visitaram a Terra na antiguidade se passando por deuses e fundando as primeiras civilizações.(Para isso leio muito os livros de autores como Zacharia Sitchin e Erik von Daniken).

    Ah, única mitologia que certamente vou inserir, mas ainda não estudei nada, é a hindú.

    Amo os contos gregos, porém os acho muito fantasiosos. Já estes mais antigos eram mais realistas, já que narram as histporias como se os deuses fossem "humanos" de fato, pois os próprios governavam os estados e viviam a frente dos exércitos nas guerras.

    Ps: de hoje para amanhã provavelmente postarei a sequencia e darei mais uma melhorada no blog. =)

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